Analisando possíveis temas de redações: novas configurações familiares
Esse tema tem muita filosofia envolvida, podendo cair em vestibulares que focam mais no senso crítico, como os vestibulares da USP, da UNICAMP e da UNESP, organizados pela FUVEST, COMVEST e VUNESP, respectivamente. Além disso, envolve uma questão social de extrema importância à discussão, o que o coloca como um possível tema ao ENEM (vale ressaltar que o ENEM é extremamente imprevisível, mesmo sabendo a postura do atual governo acerca do meio social).
O uso de filósofos, filmes, séries, comparação histórica, contextualização atual, livros, dados, dentre outros meios é de extrema importância. Portanto, segue uma lista de repertórios que poderiam ser usados para este tema específico:
- Minhas Mães e Meu Pai (The Kids Are All Right): o filme retrata a história de um casal homossexual de mulheres que tiveram seus dois filhos gerados pelo processo de fertilização in vitro e, anos após isso acontecer, as crianças resolvem achar seu pai biológico, o que gera conflitos dentro da família. O filme traz uma temática que envolve tanto modelos familiares, quanto movimento LGBTQ+, além de diversos outras temas a serem explorados, como a própria fertilização in vitro. O filme foi indicado ao Oscar em diversas categorias (incluindo melhor filme) e a diversos outros prêmios e conta com um elenco de peso, como Mia Wasikowska, Julianne Moore, Mark Ruffalo, Anette Bening e Josh Hutcherson.
- História de um Casamento (Marriage Story): esse já foi falado aqui anteriormente, já postaram suma crítica sobre o filme. Ele retrata as dificuldades de um casamento em declínio e do processo de separação. Ademais, expõe o lado de ambas as partes, bem como o lado da criança de maneira mais tênue. Para mais informações sobre o filme, vou deixar o link da crítica no final do post. Também foi indicado a diversas premiações, incluindo o Oscar e conta com um elenco extremamente incrível, como Adam Driver, Scarlett Johansson e Laura Dern.
- Lado a Lado (Stepmom): conta a história de um casal que busca mantes relações boas após o término do relacionamento e a eventual separação, visando o bem-estar de seus dois filhos. A principal questão é o surgimento de uma nova pretendente para o pai, que também busca ser legal com as crianças, mesmo que tenha problemas pra isso. O filme ainda traz as diversas brigas que ocorrem entre a mãe e a madrasta e os atritos com as crianças decorrentes dessas complicações. Tudo muda, porém, quando a mãe é diagnosticada com câncer, fazendo com que todos se unam e formem uma família fora dos eixos padronizados. Estrelado por Julia Roberts, Susan Sarandon e Ed Harris.
- O Que Esperar Quando Você Está Esperando (What to Expect When You’re Expecting): o filme conta a história de diversas mulheres que tentam engravidar e que seus destinos se conectam no decorrer do filme. Ele aborda questões diversas, como mães solteiras, casais jovens que buscam criar uma família, pessoas que decidem seguir o sonho de ter uma família e podem até dar uma guinada na profissão para tal. Conta com um elenco de peso com Cameron Diaz, Elizabeth Banks, Anna Kendrick, Jennifer Lopez e Brooklyn Decker.
- Beleza Americana: simplesmente uma bomba que fala sobre a narcisista família tradicional americana, aquela que aparece naqueles comerciais da Guerra Fria. Dessa forma, o filme quebra com o conceito acima citado e evidencia a quebra de paradigmas, mostrando que, mesmo a família que aparenta ser a mais perfeita, também tem seus problemas. Na realidade, a obra cinematográfica retrata as piores partes, justamente aquelas que não são mostradas “ao público”. O filme, ganhador do Oscar em 2000, ainda aborda situações constantes na personalidade humana, bem como materialismo, sexualidade e alienação, por exemplo. Um filme extremamente crítico e que tem uma força de fala gigantesca e de diversas formas no mundo das artes. Conta com grandes nomes, como Kevin Spacey e Anette Bening.
- Três é demais (Full House): conta a história de um pai solteiro que cuida de suas três filhas após a morte de sua mulher. No entanto, ele recebe ajuda de dois amigos que passam a morar com ele, formando uma família inusitada e divertida. A série rendeu 8 temporadas e um spin-off com mais 5 temporadas o “Fuller House” em 2016.
- Um maluco no pedaço (The Fresh Prince of Bel-Air): conta a história de um garoto que deixa sua casa e vida mais simples na Philadelphia para morar com seus tios e primos em Los Angeles, na California. A série conta com vários temas afirmativos da cultura afro-americana e também retrata a importância de enfrentar o preconceito racial, além de ser simplesmente incrível. O importante a destacar é justamente o choque que ocorre quando Will se muda e tem que se adaptar a sua nova vida, ao passo que seus tios e primos tem que se adaptar a ele. Na realidade, o sitcom conta com diversos outros temas importantíssimos e tira muitas risadas, com certeza vale a pena assistir.
- Atypical: a história é bem interessante e diferenciada, contando a história de um jovem autista que procura uma namorada, mas pra isso conta com o apoio de sua família, isto é, seus pais e sua irmã. Nesse sentido, podemos perceber na série que o personagem principal, Sam, busca de certa for uma independência, o que mexe com todo o comportamento da família, a qual busca ressignificar seu dia-a-dia. Também traz questionamentos importantes acerca do papel dos pais, amor e desafios adolescentes.
- Observação rápida: não necessariamente para vestibulares você precisa de filmes e séries premiadas. O que realmente importa é analisar bem o tema e desenvolvê-lo com seu repertório.
- Minha Versão de Você: conta a história de um garoto bissexual que mora em uma cidade de mórmons nos EUA. Nisso, ele se apaixona pelo filho do pastor da cidade, que, ao longo do livro descobre sua homossexualidade e se apaixona pelo personagem principal da obra. O mais incrível do livro é justamente os caminhos que o autor usa pra abordar a questão familiar, de modo que, por um lado, há um forte apoio da família e, por outro, há uma forte negação que abala os alicerces da família tradicional americana, pautada na moral e nos bons costumes. A autora, Christina Lauren, fez um trabalho incrível que te prende do começo ao fim e tudo isso numa linguagem simples e bem elaborada ao mesmo tempo, que aproxima o leitor do livro.
- O Livro da Família: o título não é tão chamativo e remonta, à primeira vista, algo tradicionalista, falando sobre moral e como uma família deve funcionar e ser. Contudo, o autor Todd Parr o escreveu visando justamente o contrário. O livro infantil mostra de maneira sucinta e educativa as mais diversas formações familiares. O autor ainda fala em uma entrevista “Há muitas maneiras de ser família”, destacando a importância de que todos são diferentes e não há nada de errado com isso. O livro traz a missão de educar na diversidade dentro do âmbito familiar e é simplesmente incrível, trazendo informações de modo simples e fácil a fim de que as crianças entendam e captem a lição passada.
- Tenho Dois Papais: o livro de Bela Bordeaux foi financiado com o apoio de uma campanha colaborativa no Projeto Catarse. A publicação traz ilustrações e conta a história de um garotinho que tem dois pais, mostrando que sua vida é igual a de qualquer criança que pertença a uma formação familiar tradicional, com os mesmos problemas, desafios, alegrias, tristezas e tudo que uma família pode ter.
- É Tudo Família!: com texto de Alexandra Maxeiner e ilustrações de Anke Kuhl o livro retrata diferentes formações familiares, como a menina que não tem irmãos, a garota que tem duas festas por ano: uma para comemorar seu nascimento e outra, sua chegada. Mas ela mostra que, na realidade, todas são, sim, uma família, independentemente de sua configuração, o que fomenta o diálogo como forma de alcançar o respeito à diversidade.
- Alguns links com matérias que falam sobre o assunto que podem ajudar demais, trazendo outros pontos de vista:
- Jürgen Habermas: este, em um de seus estudos, cita que a sociedade é dependente de uma crítica às tradições. Na lógica do tema, podemos abordar isso de maneira que as famílias não devem ficar presas a valores tradicionais ou verdades abstratas e estas, por sua vez, devem ser questionadas a fim de que sejam mudadas.
- Jean Jacques Rousseau: ele relata o homem, apesar de nascer livre, por toda parte encontra-se acorrentado. Nesse sentido o tema pode ser desenvolvido em torno das amarras do preconceito e da intolerância perante os diferentes modelos familiares atuais.
- Richard Rorty: segundo ele, não há nada no nosso íntimo, exceto o que nós mesmos colocamos lá. Trazendo isso ao tema, é possível interpretar que nós mesmo alimentamos ou não nossos preconceitos e intolerâncias, bem como todas as nossas emoções, ou seja, a mudança para a aceitação da diversidade dentro do núcleo familiar vem de cada um. Além disso, dá pra conectar isso aos livros para crianças citados anteriormente que podem agir como forma de demonstrar que as diferenças existem e devem ser respeitadas desde a infância, cultivando respeito e amor nas crianças.
O vestibular da UNICAMP é famoso por fugir dos padrões dissertativos na hora da redação e foca bastante numa situação real de escrita. Contudo, vale usar ainda alguns desses repertórios. Peguei quatro gêneros específicos aqui:
- Carta Aberta: esse gênero já caiu na UNICAMP e é bem simples, tem bastante a presença de interlocução, ou seja, conversa e é um texto argumentativo. Pode ser mais fácil pra quem tem experiência em dissertação. Mas vale pensar que se for uma carta aberta à população no geral, as palavras devem ser medidas de forma melhor, pra deixar o texto mais coerente e coeso de acordo com o público-alvo.
- Editorial: artigo em que se discute uma questão, apresentando o ponto de vista do jornal, da empresa jornalística ou do redator-chefe, segundo o dicionário Aurélio, certo? Ou seja, um artigo de opinião. Argumentação forte pra sustentar o lado defendido. É possível para o tema também.
- Podcast: é um arquivo digital de áudio transmitido pela internet. Vale uma certa interlocução sim, dependendo do tipo. Exposição dos fatos de forma concisa e bem explanada ao mesmo tempo.
- Entrevista: caso caía algo desse tipo pra esse tema é bem simples: durante a entrevista tente colocar algum desses repertórios, algo como “Vendo aquela série/filme, me senti representado” ou montagens do tipo que podem até gerar mais “perguntas” para serem respondidas pelo entrevistado, enriquecendo seu texto.
No geral, penso que é uma publicação bem pesada pelo excesso de conteúdo e, de fato, é. Muitas vezes, talvez, vocês encontrem mais como esta mais pra frente. É verdade que não é fácil passar pelo vestibular e estamos tentando facilitar, mesmo que às vezes fique cansativo. Mas antes cansativo aqui, pra aprender algumas dicas do que na hora das provas certo?
Todo esse repertório pode ser usado em outros temas e muitos deles até se encaixam por aí sabe? Então fica atento que vamos postar mais vezes, talvez não nesse formato também, mas é importante aproveitar tudo que for possível pra usarmos no vestibular de maneira correta e coesa.
Só uma observação rápida: existem diversas outras maneiras de abordar o tema e diversos outros repertórios. Se você pensar bem, existem formas de misturar repertórios simples do nosso dia-a-dia, como algumas sitcoms, junto com algo mais rebuscado, bem como focar em um dos dois também e tá tudo bem com isso. Cada um tem seu jeito de escrita, é só achar o seu é isso aí. E considere também todo esse repertório como recomendações viu? Até a próxima gente!
Link da crítica de História de um Casamento (Marriage Story) aqui do nosso blog:
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