O que é fotografia?
A essa pergunta, imagino que vocês, leitores, já imaginam que o texto trará uma
resposta focada em sua origem etimológica, história e frases prontas que são repetidas. Iremos
além.
Só para não deixar em aberto e também servir como introdução, o termo fotografia tem
origem no grego antigo, composto de luz e desenho ou escritura. Ela eterniza moment.. Ops,
queiram me desculpar, por favor! (risos)
Bob Wolfenson: “Estamos vivendo em uma época de imagens demais, nos intoxicamos
de tanta informação visual. É a banalização total do ato crítico de ver: vamos vendo sem
escolhas, indiscrimidamente. É muito difícil encontrar algo que nos provoque, que nos
surpreenda, tudo acaba virando clichê, quase como música de elevador.”
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Nikon D5200, 55mm, 1/500s, f/7.1, iso 200 |
Fotografia pode ser arte, comunicação, registro ou tudo isso junto. Portanto, podemos
dizer que é um idioma. Existe o senso comum de que fotografia é fácil, que não é preciso estudar
e que para tirar uma boa foto basta ter uma câmera boa. Quem pensa assim, não está de todo
errado, pois naturalmente: “somos imagéticos, sonhamos em imagens”, defende Cláudio Feijó,
pedagogo, psicólogo e fotógrafo brasileiro. André Carneiro, importante artista e intelectual
modernista brasileiro, disse:
“Parto do princípio que todo ser humano é fotógrafo. Claro, sensibilidade e
conhecimento fazem muita diferença. (...) Somos todos fotógrafos enxergando o beijo que
almejamos, o sorriso que a imaginação coloca nos lábios das pessoas amadas antes do encontro.
Fotografamos mentalmente cenas desconhecidas de viagens sonhadas e talvez até façamos
poses com as medalhas e prêmios que o nosso álbum mental ambiciona.”
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Nikon D500, 55mm, 1/200s, f/11, iso 100 |
Para uma fotografia existir, precisamos de luz, objeto que reflita a luz em diferentes
níveis e um material fotossensível, mas essa é a necessidade física. Pensando de forma maisprofunda e humana, Roland Barthes, sociólogo e filósofo francês, identifica como sendo
essencial:
• 1) Operator, o fotógrafo;
• 2) Spectrum, o assunto a ser fotografado;
• 3) Spectator, o espectador. Afinal, sem ter um observador, a função da fotografia
estaria incompleta.
Barthes ainda ressalta que uma boa fotografia é aquela que fere o observador, que
levanta sentimentos e questionamentos sobre o que vê, que insiste em pensamentos até depoisque não a vê mais. Dentro de uma imagem, o elemento que fere é por ele denominado punctum.
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Nikon D5200, 45mm, 1/1000s, f/4.5, iso 100
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Segundo Helmut Newton, fotógrafo alemão do século XX, são seis as qualidades que
definem uma boa foto:
• 1) Compreende o que geralmente satisfaz;
• 2) Estimula e provoca;
• 3) Tem múltiplas camadas;
• 4) Adequa-se ao contexto cultural;
• 5) Contém uma ideia;
• 6) É fiel ao meio.
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Nikon D5200, 17mm, 1/250s, f/2.8, iso 200
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Enfim, podemos ver que apesar de sermos naturalmente fotógrafos, precisamos
adquirir conhecimentos e praticá-los para entender a fotografia e termos mais sucesso ao
fotografar. Sobre o ato, aprendemos e aperfeiçoamos assim como nosso idioma nativo: primeiro
ouvindo e interpretando para depois falar, lendo e interpretando para depois escrever. Com a
fotografia, é o mesmo: primeiro vendo e interpretando, depois construindo e clicando.
Simplesmente olhar a foto ou clica-la através de uma câmera, sem consciência ou crítica, de
certo modo seria como o analfabetismo funcional.
Para um poeta atingir profundamente seu leitor, é necessário que ambos tenham
conhecimento de vocabulário e gramática, além de sensibilidade. Igualmente, essa necessidade
de conhecimento e sensibilidade é aplicada ao fotógrafo e ao observador. O fotógrafo precisa
dominar a linguagem imagética e se manter em constante aprendizado. A linguagem depende
da mente e da visão, da empatia e da plástica. É a composição capaz de provocar emoções,
sensações e pensamentos ao observador.
A caneta está para o escritor, o pincel para o pintor, assim como a câmera está para o
fotógrafo. Ou seja, a câmera é um instrumento, uma ferramenta. Assim como uma boa caneta
não torna o seu utilizador em bom escritor, uma boa câmera não torna o seu utilizador em bom
fotógrafo. Sebastião Salgado afirmou: “Você não fotografa com sua máquina, você fotografa
com toda a sua cultura!”
Portanto, não se preocupem com quão boa é a sua câmera, se é uma tecnológica
mirrorless ou se é um smartphone simples. Esses assuntos podem ser temas para possíveis
próximos textos. Antes, devemos treinar a sensibilidade da nossa visão e da nossa mente.
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Nikon D500, 17mm, 1/1000s, f/2.8, iso 100 |
Texto e fotos:
• Daniel Guedes F. Dionizio: Atibaia.
Instagram: @danielguedesdionizio
Site portfólio: danielguedes.46graus.com
Referências bibliográficas:
• BARTHES, Roland: A câmara clara: nota sobre a fotografia; tradução Júlio Castañon Guimarães.
Edição especial. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2012;
• CARNEIRO, André: Fotografias achadas, perdidas e construídas. 1a ed. São Paulo:
Pantemporâneo, 2009;
• DUCHEMIN, David: A foto em foco: uma jornada na visão fotográfica; tradução Edite Siegert.
2a ed. Rio de Janeiro: Alta Books, 2017;
• FREEMAN, Michael: A mente do fotógrafo: pensamento criativo para fotografias digitais
incríveis; tradução Gustavo Razzera. Porto Alegre: Bookman, 2012;
• WOLFENSON, Bob: Cartas a um jovem fotógrafo: o mundo através das lentes. 1a ed. Rio de
Janeiro: Elsevier Editora, 2009.
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