Meio Ambiente e Sociedade

 

O ser humano está intrinsecamente ligado ao meio ambiente, uma vez que o primeiro é 100% dependente do segundo para sua sobrevivência. Já a natureza, por sua vez, não possui nenhuma obrigatoriedade para com o homem, afinal ela sempre esteve aqui. A espécie de primata com características mais semelhantes as do ser humano data de 13 milhões de anos atrás, a espécie Ramapithecus, enquanto a Terra possui, aproximadamente, 4,5 bilhões de anos. Esse é o tamanho do ser humano: ínfimo perante o tamanho desse extenso universo. Contudo, à medida que o tempo passa, mais o planeta é desgastado de maneira completamente abusiva. Daí surge a importância de se falar sobre esse assunto. Daí surge a importância de se relacionar o meio ambiente com a sociedade. Discussão, esta, que deveria ter sido proposta há muito tempo.

Qual a importância da criação de uma consciência ambiental?


Mesmo após tanto tempo desde a criação da palavra ontologia, o ser humano ainda sofre para entendê-la. Pensar a condição da vida, seja de uma maneira ecológica e científica, seja por meio da subjetividade e abstrações. Portanto, uma vez que não somos capazes de sequer refletir sobre isso, não poderíamos estar mais longe dos caminhos para resolver a crise civilizatória a qual estamos imersos. Esta, por sua vez, ocasionada pelo modo que o desenvolvimento foi desencadeado. Claramente, as racionalidades científica, tecnológica e econômica possuem grande importância, mas a frase bíblica “não só de pão o homem viverá” parece fazer mais sentido quando adaptada a esse cenário, uma vez que não podemos viver apenas de extremos, como diria Spinoza.

Vale ressaltar que as racionalidades supracitadas podem gerar diversas trajetórias e uma delas é a de apropriação da natureza, a qual, aparentemente, não tem se mostrado o melhor dos caminhos. Desde muito tempo, o mundo tem sido objetificado e para o ser humano tudo que é natureza, foi reificado para ser apropriado pela racionalidade econômica, pelo status quo. Em contrapartida, mesmo com toda essa busca pelo conhecimento, colocamos em prática diariamente uma ontologia da generalidade e esquecemo-nos da ontologia da diversidade.

Outrossim, desde a segunda metade do século XX, conferências acontecem para que possamos achar meios de minimizar a pegada ecológica de cada um no mundo, como a Eco-92, sediada na cidade do Rio de Janeiro. Esta moldou diretrizes específicas para que pudesse haver desenvolvimento de uma maneira sustentável. Contudo, hoje, após 28 anos, cada vez mais, o desmatamento cresce na Amazônia, por exemplo. Segundo dados divulgados pelo INPE, o desmatamento do “ar condicionado” do mundo aumentou em 49,5%, em 2019, mesmo que lá em 1992 o Brasil tivesse a posição de líder no que diz respeito a boas políticas ambientais. 

Analogamente, a Eco-92 tenha influenciou o mundo em diversos âmbitos, principalmente os de cunho social e de empoderamento de minorias. Em 1997, os Studios Ghibli produzem a animação “Princesa Mononoke”, que retrata de uma forma bem desenhada (literalmente) pelo diretor Hayao Miyazaki críticas ao comportamento apropriador do ser humano, bem como evidencia as consequências desse comportamento. Utilizando desses recursos estilísticos próprios, ele recria um sentimento de querer proteger a natureza e as coisas que nela existem a todo custo. Creio que seja um filme inspirado nessa onda "verde" da década de 90, com a Eco-92 e o Protocolo de Kyoto em 97, por exemplo.

Não cabe ao ser humano envolver-se nos processos da vida, mas cabe a ele compreender como esta fora constituída para alcançar o tão esperado fim dessa crise civilizatória.

 

Como promover mudanças na consciência ambiental?

 

A todo momento somos agredidos indiretamente. Isso ocorre quando grandes empresas burlam leis de proteção ambiental, governos assumem posturas permissivas e omissas no que diz respeito ao desmatamento e exploração irresponsável dos recursos, mas também ocorre quando alguém, ao nosso lado, joga o lixo no chão.

As grandes economias, os grandes governos, as grandes corporações não têm preocupações sinceras para com o meio ambiente. Para todos eles, o que vale é a ética capitalista selvagem vigente, a guerra comercial, a busca pelo lucro. Nesse sentido, cabe à população não ser conivente com esse comportamento e trabalhar fortemente na conscientização, para que esse trabalho seja cada vez mais difundido e seja enraizado no superego de cada a um a fim de moldar de uma forma tênue valores morais que perpassem conceitos relacionados puramente à vida em sociedade, mas que busquem compreender que esse mundo não pertence a ninguém, mas, ao mesmo tempo, pertence a todos. Olhando de uma maneira geral, isso parece uma incoerência. Entretanto, cada atitude, seja grande, seja pequena, contribui para que todas as pessoas possam ter garantidos seus direitos e um meio ambiente livre de objetificação.

Movimentos sociais e Organizações Não Governamentais (ONG’s), como o Greenpeace, o SOS Mata Atlântica e a TNC (The Nature Conservancy), devem andar junto a escolas e empresas, passando conhecimento acerca do tema por meio de palestras, conversas e exposição de situações diversas decorrentes da degradação do meio ambiente. Tal ação pode incitar o exercício do pensamento crítico e faz com que as pessoas saíam de suas “bolhas” e quebrem paradigmas acerca do tema. Os grandes bancos, por sua vez, têm papel fundamental no tocante ao financiamento de pesquisas nessa área que trabalham com temas que vão desde fontes alternativas de energia até manutenção dos ecossistemas e vida na Terra. A vida no planeta depende de mudanças no comportamento produtor e consumista. Contudo, elas não ocorrerão de uma hora a outra.  Dessa forma, a cada passo dado, encaminhamo-nos à concretização de um mundo, hoje, considerado utópico, em que a prosperidade ande lado a lado com o verde.

De fato, o novo governo tem "passado a boiada" e tem sido omisso no que diz respeito às políticas ambientais. Isso é perceptível na flexibilização do uso de agrotóxicos que tanto fazem mal à saúde do ser humano, bem como à saúde da natureza. Outro ponto a destacar, é a censura de dados acerca do desmatamento da Amazônia no ano passado, dados estes disponibilizados pelo INPE, uma agência de pesquisa reconhecida internacionalmente, que só ferem mais as chances de amenizar os problemas ambientais. Certamente, esse comportamento bruto, por parte do governo para com assuntos relacionados ao tema denota ausência de preocupação com o meio ambiente e volta no "desenvolvimento a qualquer custo" e isso implica uma população também despreocupada que aplaude a agressividade e a improbidade de caráter administrativo desse (des)governo.

 

Desenvolvimento sustentável e as políticas públicas em cidades brasileiras

O desenvolvimento sustentável é aquele que assegura o desenvolvimento econômico e a inclusão social, porém sem esgotar os recursos disponíveis para o futuro. Nesse sentido, diversas cidades do mundo têm conseguido adotar políticas públicas que permitem essa evolução pautada nas questões ambientais.

O Brasil, por sua vez, possui diversas cidades no mapa do desenvolvimento sustentável, como a cidade de Extrema, no sul de Minas Gerais. O município possui um IDH alto e é conhecido por seu turismo ecológico com trilhas, cachoeiras, parques de preservação e por seus festivais que atraem públicos de diferentes idades. Recentemente, a cidade tornou-se um polo atrativo para indústrias e a cada ano vem se desenvolvendo cada vez mais e lado a lado com o meio ambiente. Assim, uma série de políticas públicas foram adotadas para que Extrema pudesse estar no mapa do desenvolvimento sustentável, como a adoção da Lei n° 4.074 ou a Política Municipal de Educação para a Sustentabilidade, que visa fortalecer os processos de construção de uma sociedade sustentável por meio de processos que estimulam o conhecimento com o objetivo de cuidar e valorizar a si, ao outro e ao meio em que habita. (CAP 1, Art. 3°). Além disso, Extrema aposta em novas tecnologias que permitam o avanço econômico com o mínimo de impactos ao meio ambiente, como o investimento em um sistema que transforma resíduos sólidos urbanos em energia elétrica. Analogamente, também foi implantada a Política Municipal de Combate às Mudanças Climáticas e o Projeto Conservador das Águas, que visam reduzir a quantidade de gás carbônico emitida pelas empresas, a preservação de rios e mananciais, bem como o replantio de árvores, respectivamente.

Outra cidade que mostra que o desenvolvimento econômico pode andar entrelaçado ao meio ambiente é Curitiba, capital do Paraná. O município vem, desde 1990, promovendo políticas públicas com o intuito de melhorar a condição de vida e desenvolver uma consciência ambiental. Por meio da Lei Orgânica Municipal, a cidade busca a promoção da educação ambiental, incentivar as atividades de conservação ambiental, dentre muitas outras obrigatoriedades, tanto por parte do município, quanto por parte da população para que a iniciativa funcione de fato. (Seção III. CAP VI).

Por fim, a cidade de João Pessoa, capital da Paraíba, também merce destaque. Em 2014, a cidade desenvolveu o plano de ação "João Pessoa Sustentável", que envolveu a prefeitura, o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e a Caixa. O projeto tem como objetivo primordial promover o desenvolvimento urbano do Município, calcado nos preceitos da sustentabilidade, tendo como pilares o fortalecimento do planejamento e da gestão pública municipal. "A partir do diagnóstico foram priorizadas algumas áreas de intervenção e desenvolvidas estratégias de ação e atividades de curto, médio e longo prazo, com custos, fontes de recursos, execução e arranjos institucionais para acompanhamento e monitoramento dos resultados previstos, inclusive com indicadores que possam medir a evolução de diferentes temas com participação cidadã. Os temas propostos  são interdependentes, e permitirão uma abordagem interdisciplinar das soluções investigadas, buscando fortalecer institucionalmente todos os atores envolvidos, em um exercício que poderá servir de exemplo para outras cidades brasileiras e da América Latina e Caribe.", diz o Instituto Pólis, organização da sociedade civil (OSC) que tem como objetivo o fortalecimento da capacidade de ação autônoma da sociedade civil – movimentos sociais, entidades, fóruns e redes – na perspectiva de qualificar a intervenção no debate público,nos processos políticos e culturais da sociedade, sempre colocando a agenda do Direito à Cidade como ponto central nas proposição de políticas públicas.

Haja vista esses exemplos, podemos perceber que o desenvolvimento inteligente e sustentável é possível e de extrema importância à subsistência humana. Ademais, percebe-se que, em cidades cujo o pensamento verde existe e é implementado, a qualidade de vida é superior, argumentando contra a lógica de desenvolvimento a qualquer custo.

Um mundo sustentável é possível. Um Brasil sustentável também é possível. Cabe a todos nós não desistir e continuar nessa luta.

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